Não sou ativista política, não faço parte de nenhum movimento estudantil, não sou candidata a nada, não tenho partido, não sou rica, não sou famosa. Sou simplesmente uma cidadã brasileira, que trabalha pelo sustento de sua família, que paga seus impostos e que quer como tantas outras mães de família ver este lugar tornar-se mais justo e mais humano para todos, e para isso, só pode contar com o surgimento de seres conscientes, que tenham clareza de pensamento, que lutem pela justiça, que sejam capazes de assumir posições avessas ao servilismo partidário, à corrupção cada vez mais escandalosa e aos interesses escusos de uma minoria amparada pela exploração da maioria, pelo poder e pelo dinheiro. Tenho uma família bem estruturada e quatro filhos, foram bem criados e bem formados com muita luta e sacrifício. Sempre desejei para eles um futuro melhor, e orientei-os para que não se acomodassem, que se tornassem construtores desse futuro, trabalhando com aqueles que ainda são excluídos por uma sociedade injusta e desigual. Felizmente eles conseguiram estudar nas melhores universidades deste País , inclusive na Unifesp e é por isso que como mãe de aluno da Unifesp Guarulhos, e cidadã brasileira quero ser ouvida, tenho o direito de ser ouvida pelos responsáveis pela Unifesp, pelo Ministério da Educação, pelo Ministério Público, pela Sra. Presidente Dilma Roussef e por todos que têm alguma esperança no Brasil e ainda acreditam em Democracia. Das Universidades é que saem os pensadores deste País, em especial daquelas que ensinam Ciências Humanas. É lá, que suponho eu, os jovens aprenderão a questionar, a desenvolver seu pensamento, a argumentar e formar opiniões, a discernir caminhos, a avaliar com olhar crítico a sociedade em que vivem para a partir daí, assumir responsabilidades com seu semelhantes, com o futuro e, principalmente, com o agora. É nas Universidades, que nossos jovens aprendem a assumir a sua cidadania e exercitar seu direito de reivindicar melhores condições de vida para si e para os que virão depois. É nas Universidades que se produz ciência, tecnologia, pesquisa, extensão. O futuro de todos nós também depende muito das cabeças que entram, estão e sairão das Universidades. E de repente me vejo diante de uma Universidade, onde o questionamento, a reivindicação, o direito a palavra, e a greve, é hostilizado, é criminalizado. Onde jovens são vistos como bandidos e arruaceiros porque reivindicam moradia, salas de aula e transporte e melhores condições de Educação, através de uma greve; onde outros jovens são instigados a usar a Internet para ofender, desmoralizar e caluniar seus colegas porque pensam diferente; onde a tropa de choque os espera numa passeata pacífica para entregar uma carta ao seu reitor (Se a Universidade tem tanto medo deles que precisa da tropa de choque é porque nunca procurou uma aproximação através do diálogo, de ouvir seus alunos e levar em conta o que eles têm a dizer). Eu penso que o reitor de uma Universidade deveria ser o reitor de todos, e o primeiro a perceber as necessidades de seus alunos em cada Campus da Universidade, com suas características e peculiaridades, e se orgulhar de poder formar pessoas que farão diferença no mundo. As faculdades da área de humanas tendem a reunir pessoas mais questionadoras, pensadoras, críticas que qualquer outra, talvez por isso seja difícil compreendê-las. É certo que é mais fácil lidar com gente alienada, que não se envolve com os problemas do meio em que vive, que nunca se julga responsável por nada, que comodamente prefere que nada mude, para não ter que se mexer e tomar posições. É fácil calar a boca dos jovens com cassetetes, com perseguição na vida escolar, com insinuações mal intencionadas, com ofensas pessoais… Mas é certo também, que como educador é muito mais gratificante ensinar e aprender com esses jovens que estão verdadeiramente vivos, esbanjando capacidade e energia e sequiosos por melhorar as coisas. Talvez, ouvi-los tornaria a Universidade além de um laboratório descobridor de talentos, um lugar impulsionador de socialização e soluções para este País. Talvez ouvi-los traria luz sobre tantos brasileiros esquecidos. Talvez ouvi-los faria a Educação no Brasil, ressuscitar. Quando a Universidade se fecha ao diálogo com eles, criminalizando-os , repito, massacrando seus ideais, sufocando-os pelo medo, como quando fechou os portões deixando-os trancados dentro do Campus, quando os professores se vitimizam para culpabilizar os estudantes em greve e chegam até a agressão, quando a polícia tranca nossos filhos dentro das salas e quebra tudo pra dizer que foram eles, quando a polícia bate, quando a tropa de choque aterroriza, quando mães defendem seus filhos sem dizer o nome deles porque temem que sofram represálias,quando a Universidade se vale desses expedientes para lidar com uma greve de estudantes, mesmo que essa greve tenha, por falta de resposta, radicalizando e extrapolando para uma ocupação de diretoria ou reitoria, tenho a nítida lembrança de tempos não tão antigos, de tempos de silêncio, de tempos de Ditadura… A luta pelo poder ainda hoje revive de maneira velada esses tempos terríveis…
É por isso que quero ser ouvida pelo MEC, e pela Sra. Presidente Dilma Roussef, que conheceu bem esse período obscuro da nossa História, e que apoiou a instauração da Comissão da Verdade, para que dêem atenção ao que está se passando na UNIFESP. Que esses estudantes sejam ouvidos como cidadãos deste país, que não se ouça apenas “autoridades”e não se veja a escola como um jogo de interesses ou uma simples questão econômica e política e a greve como uma questão policial. Que uma greve de estudantes seja uma porta aberta para o processo educacional e conduzida como projeto transformador da sociedade, oportunidade única de uma riquíssima troca de idéias e partilha de ideais. Mas para isso se faz necessário que a Universidade abra mão de interesses pessoais, privados e revanchismos e dedique profundo esforço, interesse, experiência, e paciência para ser inovadora e transformadora , porque acreditar na Educação, na Paz e nos Jovens exige muito mais que algumas horas aula, exige trabalho árduo e verdadeira compreensão do ser humano. Talvez o que eu esteja dizendo não seja prático, fácil ou imediatista, mas é possível, se encontrar eco no coração e na mente de pessoas realmente comprometidas com a Educação e a Vida, através do combate à alienação e defesa da teoria-prática. A Universidade reconhece seu papel transformador da sociedade? Precisamos de cidadãos pensantes, que respeitem e sejam respeitados, que saibam falar e ouvir, que vejam os impostos pagos serem revertidos em benefícios para a população. Se a Universidade calar seus jovens agora, quem irá falar por ela no futuro? Se a Universidade expulsar e criminalizar seus jovens agora, porque eles lutam e se posicionam, mesmo que contra os interesses dela, quem vai pagar o preço de um país sem expressão no futuro? Se a Universidade não dialogar com seus jovens hoje, quem irá ouvir nosso povo e falar por ele no futuro? Sr. Reitor, Srs. Professores, autoridades, quando há uma crise familiar, quem tem a obrigação de buscar soluções são os pais e é através do diálogo, compreensão e empatia que isso se dá, pois espera-se que experiência e vivência, eles tenham mais que seus filhos. Na situação dos senhores, dá-se o mesmo. Sua escolha profissional como educadores, sua experiência de vida os faz responsáveis pelo bem de seus alunos, mesmo que pensem diferentemente dos senhores. Hostilidade, indiferença, violência, disputa e opressão não fazem parte do currículo de um bom educador. Esse País , esse povo luta e anseia por novas possibilidades para sua vida. Quem está formando essas pessoas são os senhores. Não as matem no nascedouro, com elas iriam enterrar nossas esperanças.
Maria
Mulher do povo, Mãe de brasileiros