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Carta aberta aos estudantes – ou manifesto não importa o ponto

Diante dos últimos acontecimentos dentro do movimento estudantil e das diversas manifestações de grupos que surgem em apoio à greve, ocupação e até defendendo seu fim, nos sentimos na obrigação de nos manifestarmos também, nós, um coletivo de alunos que acredita que independente do ponto, o foco agora deve ser a luta.

Presenciamos algumas das ações do movimento, plenárias e assembleias e acreditamos que muito do quem sido dito na internet por parte do movimento anti-greve é distorcido em argumentos falsos e polêmicas desnecessárias. Porém não concordamos com algumas ações do comando de greve também, por isso gostaríamos de pontuar nossa posição política em relação ao que tem sido construído nos quase dois meses de greve:

Há muitas críticas a forma como o comando de greve tem se constituído e concordamos quando a questão do calendário é levantada, porque de fato, muita coisa é proposta, mas poucas são as atividades que ocorrem no campus durante a semana. Cobramos das comissões uma melhor organização das atividades e a garantia que elas ocorram, para que o movimento não se esvazie ainda mais e se perca esse importante momento de discussão política no campus. Acreditamos também que as plenárias muitas vezes são confusas e tem discussões que pouco acrescentam ao movimento. Diante disso pedimos que os estudantes que votaram a favor da greve se mobilizem para trabalhar nas comissões e construir o processo, mas também que haja mais clareza nas falas e colocações tanto em assembleia, quanto em plenária.

Quanto às assembleias gerais, acreditamos que não há neutralidade quando se está à frente de uma assembleia, mas defendemos a imparcialidade das ações individuais das pessoas que compõem a mesa. Neutralidade e imparcialidade são coisas distintas e acreditamos que é possível trabalhar dessa forma. Por isso acreditamos que as votações quando muito acirradas (como foi o caso da última votação para manter ou não a greve) devem ser contadas e a mesa dever ser mais responsável nessa decisão pela garantia da democracia no nosso movimento. No entanto também defendemos que haja a discussão política nas assembleias por meio da garantia das falas. Repudiamos, portanto as posições infantis de pessoas que se organizam simplesmente para comparecer e votar contra a greve e que não se propõe a participar do debate político.

Também defendemos que a plenária aberta deve ser mantida quanto espaço para debate de todos envolvidos no movimento e que ela não só pode como deve ter caráter deliberativo, afinal, muitas coisas acontecem todos os dias no campus e não dá para esperar uma assembleia para decidir o que fazer. No entanto manifestamos nossa posição contrária a ações que foram construídas pelos estudantes, mas que não passaram por aprovação do comando, como a própria construção do espaço Marighella. Não somos contra o espaço, mas acreditamos que isso deveria ter sido discutido no mínimo em plenária do comando, entre outras coisas que acabam acontecendo sem passar pelo comando. Apesar de pequenos impasses como esse, defendemos a legitimidade das comissões e do próprio comando que tem construído o movimento e avançado na luta. Inclusive defendemos que a ocupação que foi deliberada em plenária é sim legitima, por ter sido votada democraticamente em reunião aberta a todos estudantes e que independente das divisões que surgem após esse processo, a ocupação pode ser avaliada como uma pequena conquista, pois dela é fruto a audiência pública na ALESP e a reunião com a reitoria.

Aproveitamos para ressaltar frente aos últimos acontecimentos que em nossa visão é uma perda grande quando os estudantes começam a se dividir por discordâncias políticas, partidárias ou pessoais. As diferenças existem e temos que trabalhar com elas de forma a agregar e fazer o movimento ganhar força dentro do corpo de estudantes e não segregar. Quando determinadas frentes ou coletivos decidem“radicalizar” ou “confrontar” o movimento, quem perde SÃO TODOS OS ESTUDANTES, que desanimados e confusos com essas picuinhas estudantis, deixam de construir aquilo que importa nesse momento: A CONQUISTAS DE NOSSAS PAUTAS.

Por isso APESAR de defendermos a liberdade de organização desses coletivos e frentes dentro do movimento, COLOCAMOS a questão para reflexão de todos os estudantes que fazem parte desses grupos e frentes avaliarem se nesse momento tais atitudes tem sido efetivamente construtivas dentro da mobilização estudantil, ou se tem representado um desgaste para ambas as partes, culminando em ações violentas entre os estudantes.

Nisso pontuamos a questão dos piquetes e da violência que muito tem sido discutida nesse movimento. Em nossa visão os piquetes só existem porque os estudantes ainda não entenderam que uma assembleia de estudantes é soberana e que sua decisão deve ser respeitada independente de posições pessoais. Toda ação na tentativa de não respeitar essa decisão e entrar na aula representa, ao nosso ver, ou uma falta de entendimento político do caráter democrático de uma assembleia, ou uma atitude individualista de um corpo de alunos que não respeita o coletivo. Em ambas as situações defendemos que deve haver o dialogo e se necessário, ações diretas na tentativa de fazer valer a decisão da assembleia.

Entendemos que muita coisa tem sido distorcida na internet sobre os casos de “agressão aos professores”, mas também repudiamos algumas ações individuais de alguns estudantes do movimento que não respeitam a consciência política de cada individuo e partem para agressões verbais que julgamos desnecessárias. Inclusive, aproveitamos para expor que os ânimos exaltados entre os estudantes representam um ganho para a reitoria/diretoria acadêmica, pois ao invés de nos unirmos para fortalecer a luta, temos presenciado agressões, atrás de agressões que partem dos próprios estudantes.

Também entendemos que isso é fruto de um processo que partiu da própria direção da universidade quando decidiu instaurar processos de sindicância contra estudantes do movimento estudantil. Para nós é evidente que os estudantes se sentiram ameaçados e isso desencadeou uma sucessão de ações radicais do próprio movimento. Porém acreditamos que é a hora de “tomar um chá e esfriar a cabeça” para pensarmos coletivamente em ações efetivas que nos levem a conquista de nossas pautas.

Repudiamos também os comentários e manifestações agressivas, machistas e politicamente baixas que ocorrem no blog e nas redes sociais. Defendemos a conscientização de todos os estudantes através de constante debate, o respeito a livre expressão, desde que tais debates se deem por meio de argumentos sólidos e construtivos e não esse circo que encontramos na internet. Convidamos os estudantes que tem dúvidas a comparecer ao campus para esclarecer, conversar, participar e questionar as ações do movimento para que cada estudante possa formar uma opinião sólida sobre o que ocorre no campus ao invés de acreditar nos argumentos e fatos distorcidos que frequentemente surgem na rede.

Por fim, REPUDIAMOS ACIMA DE TUDO a má administração por parte da diretoria do campus, as decisões por parte da congregação em punir os alunos em sindicância, a inércia da reitoria e as perniciosas políticas públicas que mantém e agravam a situação de descaso com o ensino superior desse país.  Não podemos nos esquecer quem são os verdadeiros responsáveis por essa situação de caos entre os estudantes, nem do motivo pelo qual estamos em greve!

Assim, acreditamos que apesar dos erros do comando, há um grande esforço por parte de todos os envolvidos ativamente em manter a mobilização e avançar para conquista das pautas. Isso se mostra no avanço político das discussões no campus e até no blog, que inclusive é visto por nós como uma ferramenta muito boa para criar um movimento democrático e transparente. Nisso qualquer discordância pode e deve ser feita por forma de manifesto, protesto ou o que for, mas que é importante que haja uma iniciativa de construir. Defendemos então a união de todos os estudantes frente aos nossos verdadeiros inimigos: As políticas que atrasam o avanço da educação nesse país e a má administração que nos coloca nessa situação de caos acadêmico!

Porque não importa o ponto, importa a luta!

Coletivo de alunos que acreditam na luta

Manifesto CONTRAPONTO

Vemos se repetir ao passar dos anos na UNIFESP, um modelo de debate que propõe de forma exaustiva as seguintes indagações: “que universidade nós queremos?”, “que ideal de sociedade nós queremos”?”. Contudo, essencialmente nas últimas semanas do debate público que vem se intensificando na comunidade acadêmica, não é difícil perceber que tais questões jamais sairão do terreno vago das suposições se não respondermos a uma questão crucial que pontua todas as demais, nunca antes respondidas: “quais instrumentos dispomos nesse momento a fim de construir o movimento estudantil eficiente que queremos ver?”.

O modelo vigente de assembleias, comandos de greve e comissões coloca o estudante em uma situação limítrofe, onde aquele que opta por tornar pública a sua opinião, necessariamente tem de tornar pública a sua figura. Dessa forma, sua imagem fica exposta à avaliação rigorosa dos demais sob a pena – nada remota – de receber vaias e gritos de hostilidade. Assim, as assembleias revelam-se espaços de reprodução do senso comum, de rechace de opiniões adversas, de intolerância e de discursos autoritários e inflamados. Revela-se como espaços não da democracia, mas da aclamação da crítica vã e da retórica vazia, bem como espetáculos de hostilidade.

As assembleias, enquanto espaços de autogestão das atividades do corpo discente, devem ser lugares propícios ao diálogo, à tolerância e ao respeito. Todo e qualquer estudante deve ter sua fala assegurada e respeitada igualmente, independente de seus credos e filiações político-partidárias, religiosas, etc. Essa é uma condição sine qua non para que se garanta um movimento democrático, pois democracia sem pluralidade, sem diversidade, é uma ditadura da maioria sobre as minorias. É domínio faccioso sobre a variedade de opiniões dos estudantes do campi. Portando, declaramos aqui que não somos adeptos a esse modelo.

As discussões que temos realizado nos levam a concluir que esse modus operandi tão costumeiramente utilizado, e repetido por nosso movimento estudantil se mantém vigente primordialmente devido ao caráter ideológico atual, que surge com déficit de planejamento. A inexistência de entidades estudantis permanentes e de maior abrangência impossibilita, de um lado, a mobilização constante dos estudantes, e gera, de outro, o predomínio dos atuais grupos.
Como consequência, temos a grave dificuldade de organização e de diálogo e, especialmente, de negociação com os poderes instaurados na universidade (as tão citadas burocracia e hierarquias acadêmicas). Como exemplo dessas dificuldades tivemos a demora de cerca de 2 semanas para a elaboração de uma pauta de reinvindicações. O histórico mais recente evidencia ainda mais a problemática: após mais de um mês da instauração da greve atual é que finalmente se formou uma comissão de negociação.

Esse atraso nos avanços da greve é fruto também da inversão lógica que tem sido feita das mobilizações estudantis. O desenvolvimento do movimento deve passar por algumas etapas, necessárias para a maturação das ideias e reinvindicações: 1) discussão da pauta; 2)negociação da pauta; e, por fim, se houver a resposta negativa dos poderes estabelecidos, 3) debate aberto sobre a necessidade de utilização do recurso de paralisação. O método inverso que é adotado pelos representantes atuais apenas tem gerado desgastes e frustrações.

Como dito, acreditamos que isso seja resultado da ausência de entidades de representação estudantil que dê às mobilizações um caráter de constância.

Dessa forma, propomos:

1) que o movimento passe a se focar incansavelmente nas negociações, ao invés de agir de forma a enfatizar relações de força, que se revelam como formas improvisadas e autoritárias de comando.

2) que formem-se grupos que avaliem aprofundadamente as demandas da nossa pauta, de maneira a poder esclarecer aos estudantes a viabilidade das demandas, os processos judiciais que lhe cabem e que apontem os poderes com os quais devemos negociar quando as reinvindicações não estiverem na esfera universitária, de forma que nossa luta seja clara e objetiva;

3) que inicie-se o processo de construção de um Diretório Acadêmico, que organize as discussões relativas ao estatuto do DA e forme um calendário visando o processo eleitoral pelo modelo de chapas;

Por fim, repudiamos:
1 ) o uso de “piquetes excludentes”, ou seja, a intimidação aos alunos que não aderiram a greve, de forma que isso apenas lhes afasta ainda mais das movimentações estudantis;

2 ) a falta de respeito nas assembleias, declaramos repúdio total às vaias. Reafirmamos que o movimento estudantil é um espaço de pluralidade, variedade, tolerância e respeito, e que as vaias condizem com espaços de alienação e não de emancipação;

3) o fim do espírito de “queda de braço”.É necessário dialogar com docentes, funcionários, e também com os as instituições burucráticas. As opiniões amplamente difundidas de que os docentes são “apenas reacionários” impedem o crescimento qualitativo do movimento e culminaram, após uma série de tensões e em desententimentos entre o movimento estudantil e os docentes.

Assinam esse manifesto alunos do campus Guarulhos-Unifesp